quinta-feira, 14 de abril de 2016

Solidariedade




Uma vez que moramos em outro país, é inevitável que comparações aconteçam. Ao menos até determinado ano ou momento após uma real adaptação. Pois bem, algumas semanas atrás aconteceu algo curioso dentro do ônibus que me fez refletir e a chama da comparação se acendeu.

Um senhor, com uma garrafa de refigerante em mãos, um cheiro peculiar e um jeito relaxado, estava sentado à minha frente no ônibus e puxou a cordinha avisando ao motorista que queria descer. No entanto, o coletivo estava lotado e o senhor, com uma sobriedade questionável, começou a se levantar para se dirigir a uma das portas. Porém, mal teve a oportunidade de dar três passos e o motorista arrancou. Ele se desequilibrou, caiu no chão no meio do ônibus, esparramando o refrigerante em si e não conseguindo se mover mais. Eu e algumas pessoas ao redor oferecemos ajuda, recusada pelo senhor de imediato. Uma menina que estava com uma parte das costas do senhor em seu pé somente pediu, soando esnobe, para que ele retirasse logo dali. E não mais o olhou.

O coletivo continuou se movendo. Uma senhora gritou três vezes com o motorista e então ele parou. Foi até o senhor caído no chão, balbuciando coisas aleatórias e tentou levantá-lo, mesmo que o mesmo estivesse recusando. Com muito esforço, ajuda de outro rapaz e coisa de 5 minutos depois, conseguiram sentar o senhor.

O motorista então resolveu chamar a ambulância. Para isso, todos os passageiros tiveram que deixar o ônibus e esperar o próximo. Uma atitude nobre (ou seria padrão?) do motorista, mas, para a surpresa dos remanescentes que aguardavam no ponto o segundo próximo coletivo, o idoso saiu do ônibus parado tranquilamente, andando com certa dificuldade.

Um caso que poderia ter acontecido em qualquer lugar, claro. No entanto, o que me fez pensar foi a reação das pessoas ao acontecido.
1) O ônibus lotado e uma senhora com campo de visão limitado ao acontecido quem teve que gritar para o motorista, coisa de 2 paradas depois da queda;
2) A “frieza” para com a situação, visto que pouquíssimas pessoas ao redor ofereceram ajuda. A maioria simplesmente ignorou o fato e continuou preocupada com suas próprias atividades;
3) O soar esnobe da menina que pediu para o senhor “sair de cima dela”, porque as costas dele estavam “comprimindo” o seu pé.

Tá. Entendo que uma simples situação cotidiana pode ser uma questão polêmica e que renderia argumentações e linhas de pensamentos para diversos tópicos sociológicos, antropológicos e até filosóficos. Mas, sendo simples e comparando a situação superficialmente com os brasileiros e das experiências que já tive (inclusive desmaiando dentro de um coletivo também lotado no Rio de Janeiro), o meu sentimento foi de que sim, somos um povo solidariedamente superior. O que sinto por aqui é que as pessoas não são “frias” como dizem muitos, mas sim individualistas. Muito. Um sinônimo para uma palavra muito mais forte e evitável: egoísmo. Sem generalizar, uma vez que não é justo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário